Duas garotas

Quando ela me disse que já me conhecia, fiquei surpresa. Pensei que só eu a tivesse notado, nunca pensei o contrário. Percebi então que realmente havia algo em comum entre nós. Aqueles olhinhos desconfiados sempre me deixaram confusa, mas mantive meu pensamento de que da parte dela não existia nenhum interesse.
Ela me disse que algo em mim mecheu com seu interior desde o primeiro momento. Mas que não conseguia entender o quê ou por quê. Eu não tentei achar resposta pra sua dúvida, até porque minha cabecinha estava tão confusa quanto à dela! Fingi estar segura, tentei não transparecer os conflitos que se formavam dentro de minha cabeça.
É incrível como seu jeito exótico meche comigo também. Mais incrível ainda foi a facilidade que tivemos de aproximação. Bastou uma única palavra pra daí em diante não perder mais nenhuma oportunidade de expressão, independente de ser uma palavra, um sorriso, um olhar... E isso bastava! A gente só queria mostrar que estava ali, sempre por perto.
Eu gostaria de dizer que não houve limites para nós duas. Que depois de tudo isso, seguimos um passo adiante deixando as coisas acontecerem. Mas não! Não vou mentir. Mesmo contagiadas pela magia que nos envolvia, sempre estivemos cientes de que disso não podemos passar. Mas confesso que não é fácil. Por isso, agora ambas tentamos disfarçar, desviando olhares, evitando conversas, sorrisos, toques e expressões... uma vez que sabemos que estamos sendo notadas. E isso já está nos comprometendo diante de situações que não podemos correr riscos. PACIÊNCIA??? infelizmente ainda vivemos num mundo podre, movido pelo preconceito. O mesmo mundo no qual duas garotas se gostam, mas não podem viver nem amar sem serem alvos dos olhares que condenam, de palavras que machucam e do julgamento daqueles que se caracterizam como: “normais”.